Publicado:segunda-feira, 29 de junho de 2015
Postado por paulostudio
Por que a internet é tão lenta no Brasil?
O relatório “State of the Internet”,
elaborado pela empresa Akamai, revelou que a velocidade média da
internet brasileira é de 3,4 Mbps, dando ao País o 89º lugar no ranking
mundial. O índice fica abaixo da média mundial (5 Mbps) e de vizinhos
como Argentina, Chile e Uruguai.
O resultado é preocupante, considerando-se que o Brasil é a
sétima maior economia do mundo e que o acesso de qualidade à internet é
um componente essencial de qualquer infraestrutura produtiva atual.
No entanto, segundo Fabrício Tamusiunas, gerente de
projetos do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (órgão
implementa os projetos e decisões do Comitê Gestor da Internet - CGI),
esse número - 3,4 Mbps - é um resumo breve de uma realidade muito mais
complexa.
“Outro mundo”
Por que nossa conexão deixa tanto a desejar se comparada,
por exemplo, à da Coreia do Sul (que foi a primeira colocada no estudo
da Akamai, com média de 23,6 Mbps)? Segundo Tamusiunas, a internet do
país asiático é “outro mundo” em comparação com a nossa, por uma série
de motivos.
Aqui, por sua vez, esse investimento em infraestrutura não
foi tão considerável. Grande parte das capitais do país está passando
pelo processo de cabeamento por fibras, que permite às operadoras
oferecer planos mais rápidos nas regiões onde a fibra chega. O processo,
no entanto, ainda é relativamente lento.
Além disso, trata-se também de um investimento
considerável. Segundo Tamusiunas, alguns dos equipamentos de rede
necessários para se amadurecer a infraestrutura precisam ser importados,
e chegam ao Brasil pagando quase 100% do valor de custo em impostos.
Além de dificultar o desenvolvimento da infraestrutura, esse valor acaba
sendo frequentemente repassado para os consumidores.
Isso dificulta, também, a implementação da infraestrutura
em regiões menos urbanizadas, e acaba contribuindo para a perpetuação
das desigualdades de acesso à rede que existem entre as regiões do país.
Uma revisão dos tributos que incidem sobre esses equipamentos poderia,
portanto, ajudar a acelerar a modernização de nossa rede.
Mas ainda dá tempo de resolver o problema. Tamusiunas se
lembra da história de um grupo de provedores na região oeste de Santa
Catarina que se uniram em um consórcio para custear a passagem de cabros
de fibra óptica pela região. Com isso, conseguiram oferecer a todos os
seus clientes conexões de 10 Mbps pelo mesmo preço que eles antes
pagavam por 2 Mbps.
Algo da competição que acontece entre as empresas
sul-coreanas também está começando a aparecer em algumas das regiões
brasileiras. “Quando a Tim começou a oferecer planos de fibra com
velocidades muito maiores que as da Vivo por preços semelhantes, a Vivo
precisou correr atrás também”, comenta.
A empresa responsável pelo estudo
A Akamai
é uma empresa americana de serviços na nuvem e possui uma rede de
servidores espalhados pelo mundo. Ela aluga espaço nesses servidores
para clientes que desejem acelerar o funcionamento de seu site.
Como os servidores da Akamai estão bem distribuídos, a
empresa consegue criar “cópias” dos sites de seus clientes em servidores
mais próximos dos de seus usuários, o que reduz o tempo necessário para
a informação chegar até eles. Entre seus clientes e ex-clientes estão a
Apple, a Microsoft e a Adobe.
A empresa consegue monitorar a velocidade com a qual os
usuários baixam conteúdo de seus servidores. Quando alguém no Brasil
baixa uma atualização de segurança do Windows, por exemplo, ela vem pelo
servidor da Akamai, e a empresa registra a velocidade desse tráfego.
Com a imensa quantidade de informações sobre o tráfego de dados nos
países onde atua, ela consegue então montar o relatório.
Existem diversos fatores que influenciam a velocidade com a
qual um usuário consegue baixar conteúdo de um servidor da Akamai. Um
deles, obviamente, é o plano contratado. Mas, segundo Tamusiunas, o
tamanho do arquivo também afeta a velocidade: “o usuário só consegue
atingir o máximo da velocidade contratada em downloads maiores”,
comenta.
Por esse motivo, o tamanho dos arquivos baixados influencia
o resultado do estudo. Se, no país A, os usuários baixarem apenas
arquivos pequenos dos servidores da Akamai, e no país B eles baixarem
apenas arquivos muito grandes, a velocidade média no país B será maior
- mesmo se a velocidade contratada pelos usuários for a mesma. Esse é um
dos motivos que leva Tamusiunas a afirmar que “a metodologia [do
estudo] não é tão aberta quanto deveria ser”.
O que faltou
Seria necessário, portanto, conhecer o tamanho médio dos
arquivos baixados em cada país para poder compreender melhor o resultado
do estudo. Nos Estados Unidos, onde mais pessoas usam os serviços da
Apple e da Adobe que no Brasil, pode-se imaginar que a média do tamanho
dos arquivos seja maior, uma vez que mais usuários precisarão baixar a
atualizações do iOS e do Photoshop, por exemplo. No entanto, a Akamai
não divulga esse dado.
Outro dado que a empresa não divulga é o desvio padrão da
velocidade em cada país. Essa medida estatística mostra o quanto de
variação existe em relação à média. Em outras palavras, ela ajudaria a
mostrar se o número médio realmente reflete bem a realidade dos dados.
Por exemplo, se todas as conexões do Brasil tivessem velocidade de 3,4
Mbps, o desvio padrão seria zero. Quanto mais as conexões variam, maior o
desvio padrão. Mas esse número também não é divulgado.
Isso é especialmente problemático no caso do Brasil, que é
tão grande e possui realidades tão diferentes. Tamusiunas comenta que,
segundo medições do SIMET (Sistema
de Medição de Tráfego de Internet, projeto que ele coordena), 30% das
conexões nas regiões Sul e Sudeste do país têm velocidades médias de 10
Mbps a 15 Mbps.
As duas regiões são as mais bem atendidas pela
infraestrutura de rede, seguidas pela região Centro-Oeste, a região
Nordeste e, finalmente, a região Norte. Na região Norte, os dados do
SIMET mostram que a maioria das conexões fica abaixo de 3 Mbps, com 25%
abaixo de 1 Mbps.
“Não faz sentido comparar o Brasil com o Uruguai; o Uruguai
é do tamanho do Rio Grande do Sul”, comenta Tamusiunas, que acredita
que seria necessário que o estudo fizesse uma análise do Brasil por
regiões, assim como a empresa fez dos Estados Unidos
Internet móvel
Com relação à internet móvel também abordada pelo estudo da
Akamai, o Brasil ficou na 82ª posição do mundo, com uma média de 2,5
Mbps, dessa vez atrás de Venezuela e Paraguai - algo curioso, já que a
média de velocidade das conexões fixas desses países estava entre as
piores da América Latina.
A própria tecnologia das redes 3G e 4G no entanto, segundo
Tamusiunas, ajuda a explicar essa distorção: “quanto mais gente acessa a
rede móvel pela mesma torre, pior o serviço”. Nesse caso, portanto, o
que pode acontecer é que, como a porcentagem das populações da Venezuela
e do Paraguai que têm acesso a essas redes é pequena, a velocidade da
conexão, para esses usuários, é bastante boa.
Isso permite arriscar também uma explicação alguns números
impressionantes, como o da velocidade pico de conexão das redes móveis
da Austrália: no estudo da Akamai, esse número chegou a incríveis 149,3
Mbps. Isso poderia acontecer, de acordo com Tamusiunas, em uma região
pouco povoada (que a Austrália tem em grande quantidade, já que boa
parte de seu território é um deserto) atendida por muitas torres ou
microcélulas.
fonte:olhar digital