Publicado:sexta-feira, 31 de outubro de 2014
Postado por paulostudio

'Se comprar água, vai faltar comida para os meninos', diz agricultor no PI

'Se comprar água, vai faltar comida para os meninos', diz agricultor no PI.

Com três crianças em casa, o agricultor Celso da Silva Xavier, 41 anos, disse que já teve vontade de comprar água, mas não vê como sacrificar para isso um grande pedaço dos R$ 336 que recebe do Bolsa Família. A última vez que o carro-pipa de programas governamentais abasteceu a cisterna da casa dele, em Queimada Nova (PI), foi no dia 29 de agosto. A água acabou em 13 de outubro e desde então Xavier tem ido buscar em um barreiro, que já está prestes a secar.
Um carro-pipa com 7 mil litros custa em média R$ 50 na região. A Organização das Nações Unidas (ONU) diz que o ideal (ou seja, um gasto bastante racionalizado) é o consumo de 110 litros ao dia por pessoa. Xavier teria que separar algo como um terço do que recebe do benefício para comprar água para família em um mês.
Queimada Nova é uma das 203 cidades do Piauí em situação de emergência por conta da estiagem - a maior desde 1970, segundo a Secretaria Estadual de Defesa Civil. Como milhares de sertanejos da região mais seca do estado, os 8.700 habitantes da cidade ainda não têm água encanada. Quando os poços secam e a ajuda demora a chegar, a única alternativa é comprar água de carros-pipa. Para quem já vive com pouco, a situação é dramática.
Ao todo, 938 famílias são atendidas pelo Bolsa Família em Queimada Nova, que tem Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) 0,515, um dos mais baixos do país, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
 No total, 30 carros-pipas abastecem, em média a cada dois meses, as cisternas de 558 famílias que moram em comunidades mais afastadas. Na zona urbana, cinco chafarizes, que têm água de poço, são abertos duas vezes ao dia para atender os moradores. A dificuldade em conseguir água fez nascer um comércio na região, e pessoas que têm caminhonetes ou caminhões-pipa faturam até R$ 4 mil por mês com a venda de água. Dependendo do período um pipa chega a dobrar de valor e vai a R$ 100.
A falta de água para necessidades básicas dos moradores de Queimada Nova não foi o único rastro deixado pela estiagem. De acordo com a Secretaria de Agricultura, 95% da plantação de milho e quase 70% do feijão que foi plantado não prosperaram. A criação de caprinos também foi afetada e a perda chegou a 20%. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, mais de mil agricultores estão recebendo o Seguro Safra em cinco parcelas de R$ 170.
Uma barragem inaugurada no ano passado ainda não recebeu a adutora que levará água para as casas de Queimada Nova. Orçada em R$ 4,4 milhões, a barragem Serra do Brejo é resultado de emendas parlamentares e do convênio firmado entre o governo do estado, a prefeitura e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Ela é considerada a principal fonte hídrica para o abastecimento da região, com capacidade de armazenamento de 5 milhões de metros cúbicos de água, mas devido à estiagem hoje só opera com 20% da sua capacidade total.
Sobre a denúncia de que os pipeiros estariam vendendo água imprópria para o consumo, o prefeito diz que a administração municipal não tem controle sobre os veículos não cadastrados e garantiu que a água distribuída pelo Exército Brasileiro e pela Defesa Civil vem da Barragem Poço Marruá, na cidade de Patos, a 149 km de Queimada Nova, e tem qualidade.
“Todo mês é feito um controle e amostras da água são enviadas para a cidade de Picos, onde são analisadas. A água própria para o consumo vem de Patos, e é essa que é distribuída pelos carros-pipa do Exército e Defesa Civil”, afirma.

fonte: G1piaui

0 comentários for "'Se comprar água, vai faltar comida para os meninos', diz agricultor no PI"

Deixe Seu comentário