Publicado:quinta-feira, 27 de junho de 2013
Postado por paulostudio
Prêmio Piauí Inclusão Social 2013
O perigo de envolvimento de adolescentes com drogas fez com que uma mulher resolvesse interceder e ajudar.
“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”, a frase é
do filósofo prussiano Immanuel Kant, e demonstra que a educação é o
principal instrumento de transformação social. Através da educação é
possível modificar vidas e transformar a realidade daqueles que nasceram
sem nenhuma perspectiva de um futuro melhor.
Foi esta a ferramenta escolhida pela técnica de enfermagem Maria
Lurdes de Oliveira, ou melhor, a Lurdinha para transformar a vida de
crianças e adolescentes carentes da zona Norte de Teresina. Hoje ela
coordena o Centro de Apoio a Criança e ao Adolescente (CACA), mas quem
visita o centro não sabe que tudo começou embaixo de uma árvore do
Bairro Satélite.
Há duas décadas Lurdinha se deparou com uma situação preocupante.
Crianças e adolescentes estavam entrando para o mundo das drogas, e
como ela viu todos eles nascerem, não se conformava em vê-los degradar
morrer, foi quando decidiu iniciar um reforço escolar embaixo da árvore
da casa da irmã.
“Muitos vizinhos me criticaram, mas como sou técnica de
enfermagem, eu acompanhei o nascimento de cada criança e para mim era
muito doloroso ver que outras pessoas estavam matando aqueles jovens, e
decidi resgatá-los através da educação.
O projeto começou com doze adolescentes, e nos reuníamos para dar
aula de reforço, mas com o tempo esse número foi aumentando”, contou
dona Lurdinha.
Com o passar dos meses a comunidade foi notando a importância
daquele ato. Quando já tinha oitenta crianças e adolescentes
participando, com idade entre 04 e 13 anos, o padre cedeu um espaço da
igreja para a realização das reuniões, o que proporcionou uma formação
religiosa, porém com o número de jovens crescendo dia após dia a igreja
ficou pequena.
“Nós passamos um ano utilizando o Centro Paroquial, pois a árvore
ficou pequena e o padre se prontificou em deixar que nos reuníssemos
lá. Era realizada evangelização e palestras sobre drogas, sexo, doenças
sexualmente transmissível, além da importância em não se envolver com o
mundo do crime, e essa orientação foi responsável por permitir que eles
se tornem cidadãos conscientes”, explicou.
O CACA começa a ser construído
O que era para ser apenas uma aula de reforço, foi se ampliando
com o passar dos anos até que surgiu a necessidade de criar um espaço
para atender toda aquela demanda.
Com o falecimento dos pais, Lurdinha herdou o terreno em que
ficava a casa deles, mas não tinha recursos para construir o centro que
atualmente transforma a vida de crianças e jovens através da educação e
cultura.
Mesmo diante de tantas dificuldades, Lurdinha sempre soube que um
dia iria realizar o sonho da comunidade. "Eu sempre tive fé em Deus e
sempre soube que ele colocaria pessoas iluminadas no meu caminho, a
doutora Onesima foi a primeira que nos ajudou bastante e sempre foi
muito solícita, além de nos dar ideias de atividades a serem
desenvolvidas com as crianças", contou.
Ainda segundo Lurdinha, a pediatra estava com câncer e faleceu
seis meses depois, mas a família dela decidiu ajudar aquele projeto,
pois sabia como era muito importante para a médica modificar a vida
daqueles jovens.
"Quando ela partiu ficamos tristes, mas sabíamos que ela seria
nosso anjo da guarda, como realmente foi, pois para atender a sua
vontade o seu marido, o doutor Nascimento, resolveu dar continuidade aos
seus planos e conseguiu recursos para a construção de três salas, dois
banheiros, cozinha e dispensa, iniciando assim o nosso centro", relatou.
O centro estava construído, mas faltava as instalações elétricas e
hidráulicas, além do reboco e piso, foi quando apareceu mais um anjo na
vida daquelas crianças, Jamilton Lopes, ele é presidente de uma ONG e
resolveu se engajar naquela causa tão nobre, que é salvar vidas através
da educação.
"Nos conhecemos em um encontro e começamos a conversar sobre os
nossos projetos, quando contei sobre as dificuldades que estávamos
enfrentando, ele se prontificou em nos ajudar, organizou uma feijoada e
arrecadou R$ 7000, que foram utilizados nos acabamentos necessários.
As pessoas dizem que sou mãe desses alunos, e eu sempre digo que o
Jamilton é o pai, pois ele nos ajudou muito e continua ajudando",
afirmou Lurdinha.
CACA também oferece oficinas e palestras
Capoeira, pelotão mirim, futebol, dança, teatro, coral são as
oficinas realizadas nos finais de semana para ocupar o tempo dos alunos
que fazem parte do CACA.
Atualmente 124 jovens recebem aula de reforço escolar e
participam das oficinas. O centro que fica localizado no Bairro
Satélite, também recebe crianças das vilas Madre Teresa, Paraíso,
Firmino Filho, Porto do Centro e Parque Universitário.
“95% dos alunos que recebemos no CACA estão em situação de
extrema pobreza, em alguns casos moram com os avós, a mãe é presidiária
ou fugiu de casa, então eles veem no centro um lugar para esquecer seus
problemas.
Muitos dos alunos almoçam aqui e vão para escola, e a nossa
relação é de família mesmo, e fico triste por não conseguirmos atender
toda a demanda, já que atualmente temos uma fila de espera”, relatou
dona Lurdinha.
O centro também avalia o boletim de todos os alunos para saber como está o desempenho na escola.
Para dona Lurdinha esta é a parte essencial, pois é quando o
centro avalia os avanços na escola e as disciplinas que merecem mais
atenção nas aulas de reforço. “Esse acompanhamento é importante para
saber se eles estão frequentando a escola, suas notas, se estão tendo
dificuldade”, explicou.
"Ser voluntário faz bem", dizem colaboradores do Centro
Não há nada mais gratificante do que fazer o bem ao próximo, e
essa sensação é bem conhecida pelos voluntários Maria do Livramento,
Maria de Jesus e José Carlos Alves.
Os três atuam há algum tempo no CACA e garantem que o melhor
pagamento é o sorriso estampado no rosto daquelas crianças, que veem no
Centro uma oportunidade de ter um futuro melhor.
"Eu estava desempregada quando a Lurdinha me chamou para ajudá-la
a cuidar das crianças, eu logo aceitei, e hoje me sinto muito feliz por
cuidar do lanche deles, pois percebo como é importante para eles
participar do Centro, e me orgulho em ser uma das responsáveis por
ajudar a manter este centro em funcionamento", disse Maria do
Livramento.
Para acompanhar a educação do neto de perto dona Maria de Jesus
Dornelo resolveu se tornar voluntária, e ajudar na cozinha no período da
tarde. "Adoro conversar com as crianças, pois noto como o meu trabalho é
importante para elas. Quando eu entrei foi para acompanhar meu neto,
mas hoje tenho vários deles", afirmou.
O estudante de administração José Carlos Alves viu no centro uma
oportunidade de compartilhar o conhecimento que adquiriu com aquelas
crianças. Há dois meses atuando como professor de reforço, o jovem
afirma que a determinação para aprender é a maior recompensa no seu
trabalho.
"Quando o rapaz que trabalhava aqui teve que sair eu logo pedi
para me tornar um voluntário, pois vi uma oportunidade de ajudar estas
crianças, que também tem me ensinado bastante, logo a força de vontade e
a determinação para aprender me dão força para continuar, até porque a
história de vida deles não é diferente da minha", comentou José Carlos.
Iniciativa modifica vidas através da educação
"A tia Lala (Lurdinha) é como uma mãe para a gente", assim foi
definida a idealizadora do projeto pela jovem Karioly Silva, de 12 anos.
Ela participa do centro desde pequena e afirma que a vontade de crescer
na vida surgiu da motivação dada todos os dias pelos voluntários, que
se dedicam dia e noite para que aquelas crianças vejam na educação uma
oportunidade de modificar a realidade que estão inseridos.
"A fé e as palavras de incentivo da tia Lalá são as maiores
responsáveis por nos motivar. Assim como eu, muitas crianças não
convivem com os pais e perdem um pouco a esperança, mas depois que
começamos a frequentar o centro notamos que existe uma oportunidade de
vencer na vida, e esta oportunidade está na educação", garantiu Karioly.
O adolescente Antoniel Sousa, de 15 anos, depois de passar anos
estudando no Centro, resolveu ajudar as crianças da comunidade. Como o
reforço escolar é apenas para quem está cursando o ensino fundamental, o
jovem não queria deixar o Centro e se tornar voluntário foi a maneira
encontrada para continuar e ajudar outros jovens.
"Hoje eu ensino e participo das atividades, mas acredito que a
maior lição que aprendi aqui foi a importância do amor ao próximo e a
paciência para ensinar. Se todas as pessoas fossem como a tia Lalá, o
mundo seria um lugar bem melhor", garantiu o adolescente.
O Centro de Apoio a Criança e a Adolescente modifica há vinte
anos a vida de crianças e jovens, que poderiam ter um futuro totalmente
diferente se não tivessem conhecido o amor e a vontade de ensinar da
dona Lurdinha.
Incluir vidas através da educação é o que motiva a vida da
técnica de enfermagem, que não mede esforços para plantar no coração
daquelas crianças a esperança de um futuro melhor.
Trabalho do Centro consegue mobilizar toda a comunidade
A proposta inicial era oferecer aulas de reforço escolar para os
jovens carentes da comunidade, mas com o passar dos anos essas
atividades foram se ampliando, e hoje envolvem os pais e moradores da
região, que participam a cada 45 dias de palestras com médicos,
dentistas e outros profissionais que tratam de variados temas.
As atividades visam fortalecer o vínculo familiar com o centro,
pois a educação é um processo que ultrapassa a barreira da escola e deve
ser iniciada dentro de casa.
"Nós temos uma relação muito próxima, pois se alguém adoece nós
levamos para o hospital; se algum deles está com problemas em casa, nós
conversamos com ele e com a família, e essa amizade é importante, até
porque queremos que eles se sintam bem aqui", afirmou a diretora do
CACA.
Uma relação que dona Elisângela Martins faz questão de cultivar,
ela que é mãe do pequeno Diogo Gabriel, de 10 anos, conta que o filho
depois que passou a frequentar o Centro melhorou seu desempenho na
escola e adora participar das atividades desenvolvidas nos finais de
semana.
"Aquela velhinha (Lurdinha) é uma abençoada, pois tudo que ela
pode fazer por nossos filhos ela faz como se fosse para alguém da sua
família. Diogo participa do Pelotão Mirim aos sábados e vem empolgado, o
que nos tranquiliza, pois sabemos que ele não está nas ruas correndo o
risco de se envolver com o terrível mundo das drogas".
fonte:com informações do meio norte